quarta-feira, 29 de maio de 2019

"É O LEIXÕES DE MATOSINHOS, NÃO TEM QUE TER MEDO DE NADA NEM DE NINGUÉM"

"É O LEIXÕES DE MATOSINHOS, NÃO TEM QUE TER MEDO DE NADA NEM DE NINGUÉM"


A Rádio Nova Memória entrevistou uma figura bem conhecida pelo universo leixonense, José Faria, mais conhecido por Zé Augusto.
Esta conversa teve como tema os campeonatos de sub-18 e sub-19 que se encontram nas retas finais e que podem assim atingir os objetivos propostos no início da época.

Nova Memória-No início da época, com a chegada de novos jogadores aos escalões de sub-18 e sub-19, como se consegue passar a mística do Leixões?

Zé Augusto-Antes de mais, deixem-me agradecer o facto de poder participar nesta pequena entrevista da vossa rádio. É um prazer. Deixem-me dar também os parabéns pelo excelente trabalho que têm feito a dinamizar o desporto em Matosinhos e nomeadamente o Leixões.
Começaram as perguntas logo pelo tema base porque está precisamente na base de todo o sucesso que possamos chamar aquilo que tem acontecido este ano.
A história e o lema do Leixões por si só dizem muito e se formos a comparar em termos de condições físicas ou condições de trabalho com todos os outros clubes muito provavelmente não seria por aí que nós teríamos sucesso.
Assim sendo acho que é precisamente por ser o Leixões, pela história, pelo peso, pela identidade, pelo ADN à Leixões.
Nesse sentido, é algo que realmente não é fácil. Para mim é quase automático e natural. Trata-se de muitos anos ligados ao clube, muitas vivências, um passado ligado nas mais variadas áreas. É algo que explicar por palavras é difícil, mas é um conjunto de ações diárias, uma forma apaixonada como se encara os projetos, onde tu colocas tudo o que tens de ti e o que não tens de maneira a que eles percebam o que é jogar no Leixões e o peso que tem esta camisola, que é muito.
Eu penso que é agir com naturalidade e eles se reverem numa liderança forte que é aquilo que nós tentamos passar.


NM-Quais foram os objetivos propostos no início de época para estes dois escalões?

ZA-Este ano quando começou a época foi-me proposto pelo presidente Paulo Lopo agarrar este desafio de ser coordenador da formação. Era uma herança pesada. Uma herança em que os nossos sub-18 vinham de campeões distritais à 2 anos, vice-campeões este ano, em que a nossa equipa de sub-19 tinha feito um campeonato fantástico liderada pelo mister Malafaia e tinha atingido a fase de apuramento de campeão o que por si só já é muito difícil.
As pessoas às vezes podem não ter noção mas comparado a todas as outras equipas é muito difícil.
Quem trabalha no Leixões tem que encarar isto sempre pelo lado positivo.
Em termos de objetivos foi fazer melhor do que no ano anterior.
Nós queremos excelência, não nos refugiamos em desculpas por os outros terem aquilo e nós não termos, não é motivo. É como disse anteriormente. Vai muito de incutir uma mentalidade vencedora, uma mentalidade à Leixões, uma mentalidade de entrar em qualquer campo para ganhar, seja onde for e contra que adversário for,
Obviamente que o objetivo passa por fazer sempre melhor ano após ano, semana após semana, jogo após jogo.
Foi uma luta diária.
Felizmente parece que as coisas correram bem e é para dar continuidade.

NM-Qual está a ser o sentimento no momento atual face aos objetivos propostos?

ZA-Foi tal como disse anteriormente. É um sentimento de gratificação.
Foi um ano muito exigente.
Quem está de fora muitas vezes não percebe mas isto absorve-nos de uma maneira...consome-nos quase 24 horas por dia.
E agora que a época está a acabar, que atingi-mos grande parte dos objetivos, estamos muito perto de atingir feitos históricos tanto nos sub-18 como nos sub-19.
É gratificante. Deixámos muitas vezes a família para trás, os amigos, os tempos livres, o poder sair, o poder divertir, o poder ir jantar, o poder ir de férias.
Isto é um trabalho que nos envolve diariamente 7 dias por semana e não há volta a dar.
Quando as coisas acontecem é gratificante.
Para mim é um orgulho enorme poder estar completamente dentro daquilo que nos propusemos no início da época.

NM-O que sente a equipa técnica em relação aos jogadores?

ZA-Eu faço questão de ser um pequeno líder dentro da nossa escala de hierarquia.
A parte que me diz respeito é a formação.
Tanto eu como o presidente fazemos questão de estar muito próximos das nossas equipas técnicas.
Toda a gente rema para o mesmo lado.
Eu acho que, tanto nós como a equipa técnica, o Rui e o Pedro, estamos extremamente contentes.
São miúdos fantásticos, alguns com muitos anos de Leixões, outros que chegaram agora mas que rapidamente perceberam o que é o ADN do Leixões, o que é estar em Matosinhos.
Conseguem fazer autênticos milagres e têm um espírito de grupo muito bom, uma união muito boa.
Vive-se um clima fantástico.
Mas nem sempre é fácil pois às vezes cobrámos muito uns dos outros, exigimos muito uns dos outros, mas na hora da verdade, quando é preciso unir estamos todos juntos.
Acho que isso passa para fora, para os nossos adeptos. Somos muitas vezes abordados por eles que dizem que se identificam totalmente com esta maneira de jogar à Leixões.
Já fizemos coisas bonitas, já batemos de frente com os melhores, seja onde for e conseguimos provar que eles querendo são fantásticos.
Os melhores estão aqui em Portugal.
O Porto ainda agora foi campeão da Youth League e mesmo assim não foi fácil de nos ganhar.
Seja contra que adversário for e onde for não é fácil de nos derrubar.

NM-O facto de alguns jogadores terem renovação de contrato com o Leixões é um fator de motivação?

ZA-Sim, isso tem que ser obrigatoriamente motivador.
Nós ao longo do ano vamos estando atentos, vamos vendo a evolução dos nossos jogadores, vamos traçando objetivos para eles e com naturalidade as coisas acontecem.
Muitas vezes o presidente diz que os sub-18 e os sub-19 são as meninas dos olhos dele, porque não perde um jogo, porque está constantemente em cima do acontecimento e por isso cada contrato celebrado é motivador para os jogadores, tem que ser, pela questão pessoal, pelo futuro enquanto profissionais mas para nós também é muito gratificante.
Nós sabemos que o caminho do futebol em geral passa por uma aposta forte na formação, pelos jovens valores, e nós temos capacidade para formar os melhores também.
Para nós fazer um contrato profissional ou renovar um contrato profissional com um júnior é deveras motivador. E então quando são casos como alguns com vários anos de Leixões (vê-los chegar aqui com 5 ou 6 anos) e poderem terminar o seu percurso de formação com contrato profissional é o culminar e é o perceber que as coisas são bem feitas, não só da nossa parte mas também da parte de quem os acompanhou, como é óbvio.

NM-Como se consegue chegar a estes patamares?

ZA-Como se consegue? Isto é um conjunto de vários fatores.
Como já fui dizendo ao longo das outras perguntas, isto vai tudo de uma entrega enorme e de um profissionalismo extremo.
Muitas vezes, quando os sub-17 passam para sub-18 eu digo que a partir de agora são profissionais.
Podem não ser profissionais nos ordenados, nas condições porque nem sempre é possível, mas passam a ser profissionais na maneira como encaram as coisas.
Eles são profissionais, nós exigimos que os jogadores sejam, as nossas equipas são completamente dedicadas, são exaustivas na preparação dos treinos, na preparação dos jogos, e depois nós também cá em cima na parte da liderança tentamos que assim seja, vamos ao pormenor. Eu sei que se calhar outros clubes vêem estas equipas como "ainda é formação" mas aqui não. Eles são homens, nós respeitamos enquanto homens e tentamos extrair ao máximo aquilo que queremos deles.
Agora isto vai tudo de uma presença constante, de um crer muito grande, de uma vontade, exigência e mentalidade muito forte. Uma mentalidade que nunca se devia ter perdido no Leixões, que não se deve perder, uma mentalidade de " é o Leixões de Matosinhos não tem que ter medo de nada nem de ninguém, tem que entrar em todos os jogos para ganhar, para conquistar os 3 pontos, seja onde for, seja em que competição for, é tão simples quanto isso."

NM-O facto de, na apresentação do novo treinador da equipa sénior, se ter referido que 3 ou 4 jogadores vão alinhar na equipa sénior, vai fazer com que o plantel trabalhe ainda mais?

ZA-Eu acho que eles vão continuar a trabalhar igual.
Em termos de trabalho não vai ser aquilo que o mister Carlos Pinto disse que vai fazer mudar a maneira de trabalhar com eles.
Eles trabalham igual desde o início da época, desde o primeiro treino.
Ainda há pouco tempo, o presidente estava a ver um treino e é incrível como eles dão tudo e muitas vezes exageram, com entradas quase assassinas no próprio treino mas eles percebem que o que fazem no treino é o que fazem no jogo, ou seja, muita entrega e muita vontade.
As equipas técnicas também incutem isso, os preparadores físicos levam ao limite o trabalho deles, os próprios misters também, até mesmo os estagiários, toda a gente é de um extremo profissionalismo
Assim sendo é muito gratificante, porque mais que os resultados, o mais importante neste processo é podermos proporcionar que eles cheguem à equipa principal.
É com bons olhos que vejo um grande profissional como o mister Carlos chegar e ter estes horizontes também abertos para apostar neles.
Tenho aqui vários casos como o do Anthony, o Ofori, o Jorge na equipa principal. Temos muitos e bons jogadores formados aqui.

NM-O que espera dos encontros deste fim de semana (sub-18 Sousense vs Leixões e sub-19 Alverca vs Leixões) ?

ZA-Seria contraditório para mim se dissesse que esperava outra coisa que não fosse ganhar.
São dois jogos de extrema importância, podemos ir a Alverca lutar por um histórico terceiro lugar , mediante a conjugação de resultados.Entre o Porto e o Braga, e o Benfica e Sporting.
Para nós já começa a ser normal, mas é gratificante poder dizer que podemos acabar o campeonato num honroso terceiro lugar, só atrás de dois grandes do futebol português e à frente de outros grandes.
Esperemos ganhar. Eu tenho a certeza que vamos entrar com tudo para conseguir os 3 pontos em Alverca porque foi assim durante toda a época e não podia ser de outra maneira.
Em relação aos sub-18 é a mesma coisa.
Neste momento somos lideres da fase de apuramento de campeão, vamos jogar contra um adversário difícil, um adversário que já vencemos mas que para estar nesta fase tem toda a qualidade com as  outras duas equipas (Gondomar e Rio ave).
Esta semana não correu como pretendíamos mas somos uma grande equipa.
Temos os nossos miúdos que sabem dar a resposta. Tenho a certeza absoluta que vão dar uma resposta muito positiva. São jogadores à minha imagem, são jogadores à imagem do Leixões.
Formatados para lutar até ao último segundo e tenho a certeza que no sábado vamos dar uma resposta muito positiva.
Vamos estar distanciados cerca de 200 kilómetros mas vamos estar numa sintonia a puxar para o mesmo lado, os sub-19 a puxar pelos sub-18 e os sub-18 a puxar pelos sub-19.
Por isso sábado é fácil, são 6 pontos.

NM- O que sentem os jogadores ao entrar em campo com o símbolo do Leixões ao peito?

ZA- Eu talvez respondia a isso contando um pequeno episódio nomeadamente dos sub-19.
Nós ainda nesta fase de apuramento de campeão no final do jogo com o Sporting em que ganhámos em casa, o presidente reuniu-se no circulo central e decidiu premiar os jogadores por causa da vitória e do que tinham feito durante o jogo. Estamos a falar de miúdos que grande parte deles não recebem nada e outros recebem valores baixos.
Um prémio para eles seria algo de extrema importância.
O presidente decidiu oferecer esse prémio.
Nós tínhamos jogado sábado e quarta havia jogo no Seixal contra o Benfica, até então líder do campeonato só com vitórias.
E eu no dia seguinte recebi uma chamada do capitão de equipa a dizer "Mister, nós não queremos o prémio, nós queremos ir de estágio, se o presidente não se importar de trocar...Nós queremos ir fazer um grande resultado ao Seixal.". Isto diz muito o que é para eles jogar no Leixões.
É um caráter enorme. Se calhar o segredo do empate esteve aí. Poderá não ter sido também mas eu tenho a certeza que estes miúdos têm um orgulho enorme. Eles batem de frente seja com quem for. Tenho a certeza que quando entram em campo têm uma vaidade extrema em vestir esta camisola no bom sentido. Com humildade, com aquilo que os caracteriza, com responsabilidade, com a exigência do Leixões. Não podia ser de outra forma. Mas com uma personalidade de outro mundo.
Hoje em dia nós já somos reconhecidos seja onde for. Qualquer adversário percebe isso. "Lá vem aí outra vez o Leixões. Não vai ser fácil. Vamos passar mal." acho que é um bocadinho por aí.

NM-Quer deixar alguma mensagem para os leixonenses?

ZA-Para os leixonenses é uma mensagem muito simples. Agradecer todo o apoio que foi dado durante a época. São inúmeras as mensagens de apoio ao trabalho que tem sido feito.
Tal como nós que somos inconformados por natureza no nosso trabalho e na nossa maneira de estar penso que também os leixonenses têm que o ser."Não chega queremos mais.". Queremos uma envolvência maior com o clube. O Leixões é um gigante adormecido. Tenho saudades de ver o Santa Cruz cheio, de ver o Estádio do Mar cheio mas penso que a maré vai mudar. Uma nova época se avizinha. Estamos todos focados nos mesmos objetivos e acho que os leixonenses na hora da verdade nunca deixaram de apoiar, sempre disseram presente, sempre foram um exército que protegeu e defendeu a fortaleza e vai ter que voltar a ser obrigatoriamente assim. Somos os melhores adeptos do mundo. É a minha cidade, é um orgulho enorme poder representar este clube e tenho a certeza que todos juntos, como se foi dizendo ao longo de muito tempo, conseguimos chegar a bom porto, e juntos venceremos.
Um abraço e muito obrigado.


Fonte da foto: Leixões SAD

Simão Moura



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